O Washington Post, um dos veículos de imprensa mais influentes dos Estados Unidos, confirmou nesta quinta-feira (7) que foi vítima de um ataque de ransomware Cl0p, grupo cibercriminoso de origem russa conhecido por campanhas massivas de extorsão digital.
O ataque está relacionado à exploração de uma falha crítica zero-day no Oracle E-Business Suite (EBS) — plataforma usada por milhares de empresas no mundo para gerenciar operações financeiras, manufatura, logística e relacionamento com fornecedores.
A violação se tornou pública quando o nome WASHINGTONPOST.COM apareceu em destaque no site de vazamentos da gangue Cl0p, na dark web. O grupo publicou o domínio do jornal em fonte amarela chamativa, acompanhado da mensagem:
“WASHINGTONPOST.COM – PÁGINA CRIADA, AVISO.”
A tática é parte do modus operandi da gangue, que expõe suas vítimas publicamente para aumentar a pressão e forçar o pagamento do resgate.
O que aconteceu com o Washington Post
De acordo com comunicado oficial, o ransomware Cl0p explorou uma vulnerabilidade zero-day no Oracle EBS, comprometendo sistemas internos do jornal e de diversas outras organizações globais.
O Oracle E-Business Suite é um software corporativo amplamente utilizado por empresas, universidades e instituições governamentais. Ele reúne dados de processos administrativos, financeiros, logísticos e de recursos humanos — o que o torna um alvo de alto valor para cibercriminosos.
A Oracle reconheceu a falha no início de outubro e lançou dois patches emergenciais:
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O primeiro, em 2 de outubro, não solucionou totalmente a vulnerabilidade;
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O segundo, em 11 de outubro, corrigiu as brechas remanescentes — mas muitas empresas já haviam sido comprometidas semanas antes.
Pesquisadores do Google Threat Analysis Group (TAG) apontam que o exploit estava ativo desde julho de 2025, permitindo acesso remoto aos sistemas antes mesmo da divulgação oficial da falha.
Quem é o grupo de ransomware Cl0p
O Cl0p ransomware é um dos grupos mais ativos do mundo e atua desde 2019 sob o modelo de Ransomware-as-a-Service (RaaS) — uma estrutura na qual afiliados alugam a infraestrutura de ataque em troca de uma porcentagem dos lucros obtidos com resgates.
A gangue, de origem russa, ficou conhecida por ataques contra softwares amplamente utilizados no ambiente corporativo, como:
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MOVEit Transfer (2023): afetou mais de 2.600 organizações e 90 milhões de pessoas, tornando-se uma das maiores campanhas de ransomware da história;
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Fortra GoAnywhere e Cleo: explorados em ataques semelhantes, com vazamento massivo de dados;
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Oracle E-Business Suite (2025): nova frente de ataques que já atingiu universidades, empresas de tecnologia e órgãos públicos.
Entre as vítimas confirmadas dessa onda estão a Universidade de Harvard, a DXC Technology, a Envoy Air (regional da American Airlines) e as Escolas Públicas de Chicago, o quarto maior distrito dos EUA.
Como funciona o ataque Cl0p
O ciclo típico de invasão do grupo segue uma cadeia bem estruturada:
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Exploração da falha zero-day para obter acesso remoto ao sistema;
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Exfiltração de dados sensíveis, incluindo arquivos corporativos, planilhas financeiras e credenciais;
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Envio de e-mail de resgate, exigindo pagamento em criptomoedas;
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Exposição pública do nome da vítima e vazamento dos dados em portais da dark web, via links magnéticos (BitTorrent).
A inclusão do Washington Post no portal da gangue indica que o grupo já completou a fase de extração de dados e iniciou a etapa de pressão pública, que costuma anteceder o vazamento completo das informações.
O que pode ter sido comprometido
Até o momento, o Washington Post não revelou a extensão do ataque nem quais dados foram acessados. Contudo, considerando as características do Oracle EBS, é provável que os sistemas afetados envolvam:
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Registros financeiros e contábeis;
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Dados de fornecedores e contratos corporativos;
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Informações de recursos humanos e folha de pagamento;
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Documentos administrativos e e-mails internos.
Especialistas alertam que incidentes dessa natureza podem gerar graves consequências legais e reputacionais, especialmente diante de legislações como o GDPR (Europa) e o CCPA (EUA).
Falha de patch e reação da Oracle
A Oracle tem enfrentado críticas pela lentidão em mitigar o ataque. O primeiro patch emergencial lançado em outubro não corrigiu integralmente o problema, exigindo um segundo pacote poucos dias depois.
Essa defasagem deixou empresas vulneráveis por mais de uma semana, período em que os operadores do Cl0p ransomware intensificaram as invasões.
Segundo analistas, a combinação de um patch falho, um ciclo de atualização complexo e a dependência de infraestrutura centralizada fez com que centenas de organizações ficassem expostas simultaneamente.
Impactos financeiros e reputacionais
Campanhas anteriores do Cl0p arrecadaram centenas de milhões de dólares em pagamentos de resgate. Mas ao atingir o Washington Post, o grupo demonstra um objetivo adicional: visibilidade e demonstração de poder.
A escolha de um veículo de comunicação global aumenta o impacto psicológico e midiático do ataque, multiplicando a exposição do grupo.
Além dos prejuízos financeiros, há riscos secundários relevantes:
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Possível exposição de fontes jornalísticas e comunicações internas;
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Comprometimento de dados financeiros e estratégicos;
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Ações legais e investigações por órgãos de proteção de dados.
Como se proteger de ataques semelhantes
O incidente reforça a necessidade de políticas de segurança cibernética preventiva, especialmente para empresas que dependem de sistemas ERP e softwares corporativos amplos.
Boas práticas recomendadas:
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Aplicar imediatamente patches e atualizações críticas, verificando a integridade após a instalação.
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Implementar segmentação de rede para isolar módulos sensíveis de sistemas ERP.
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Monitorar logs e comportamentos anômalos com ferramentas de SIEM e detecção de ameaças (EDR/XDR).
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Manter backups offline e testados para garantir recuperação sem pagamento de resgate.
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Treinar equipes internas com simulações de incidentes e planos de resposta.
O significado do ataque para o cenário global
O caso Washington Post demonstra que nenhuma instituição está imune a ataques cibernéticos — nem mesmo veículos de mídia ou corporações multinacionais.Grupos como o Cl0p ransomware operam com recursos avançados, conhecimento técnico profundo e capacidade de atingir simultaneamente múltiplos alvos estratégicos.
Para o setor empresarial, a lição é clara: segurança digital não é mais um diferencial, é uma obrigação operacional.
